segunda-feira, 2 de abril de 2018

Marielle, presente!

Ontem, eu atendi o meu desejo e fui para a Praça da Estaçao chorar pela Mariele. Por ela, por mim e por cada corpo negro tombado a cada 23 minutos neste país. Quando cheguei, Elisa Lucinda falava. A atriz e poeta está com um espetáculo em cartaz em BH e largou o ensaio para se juntar ao ato. As primeiras pessoas que encontrei foram a Cris e a Luísa. Cris é uma das poucas amigas brancas que eu sei que estará de braços dados comigo no front, se eu precisar. Ela é daquelas que escuta as irmãs pretas, que quer aprender e é uma aliada na luta contra o racismo. Não consegui segurar o choro quando as mulheres da Ocupação Carolina Maria de Jesus chegaram cantando: "companheira me ajude, que eu não posso andar só, eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor". Lembrei do Racionais: "O que todas tinham em comum? A roupa humilde, a pele escura e o rosto abatido pela vida dura". Me vi tanto nelas. Eu, uma sem casa até hoje. Também me emocionei quando ouvi a deputada Jô Moraes, de quem já fui eleitora tantas vezes falando. Jô, que lutou contra a ditadura, deve estar com mais de 70 anos e ainda segue falando em porta de fábrica com trabalhadores. Acho que foi minha amiga Carlandréia que falou que ninguém merece lutar duas vezes contra um golpe na mesma vida e que ela só descansa quando ouve o som da chave virando na porta e seu filho chegando em casa. Também foi emocionante quando a marcha dos professores estaduais, em greve, se juntou à multidão na Praça da Estação. A poeta Norma Lopes leu o poema que Michleliny Verunschk fez em homenagem à Mariele e que viralizou na internet. Espero que alguém tenha registrado porque foi lindo, forte e potente. Quando saímos em caminhada, me perdi da Cris e da Luísa, mas encontrei meu professor Juarez Dayrell, um dos responsáveis por eu ser professora. Encontrei também algumas ex-alunas, vi outras de longe. E, ao contornar a Praça, já encaminhando para a Praça Sete, encontrei, visivelmente emocionado, o pai do João com a esposa, a filha pré-adolescente e o filhinho caçula. Me juntei àquela família preta e abracei um por um. Ainda encontrei com a Glau e vi conhecidos aqui e ali. É tão triste saber que Mariele se foi. Uma mulher negra que abalou as estruturas racistas e excludentes, que ousou enfrentar forças poderosas e por isso foi silenciada. Quando cheguei em casa vi as manifestações que aconteceram em várias cidades e até fora do país, e me senti, novamente, em 2013. Tomara, as deusas permitam que esse movimento seja um reacender das ruas para barrar esse golpe racista e misógino que enfiou o país neste buraco que estamos.
Sigo em luto/a.
Mariele, presente!

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