segunda-feira, 2 de abril de 2018

Enquadro

O que eu temia aconteceu. O menino tomou seu primeiro enquadro. Aconteceu há algumas semanas, mas ele só me contou hoje. E o pior, tomou um enquadro no hall de um prédio da zona sul, enquanto esperava a amiga que subiu ao apartamento. Um homem que se identificou como policial, apesar de estar à paisana, não mostrar documento e aparentar embriaguez, chegou pedindo a identidade dele, perguntando de maneira agressiva, se ele "tinha passagem" e afirmando que ele usava drogas. Meu corpo todo treme enquanto digito isso. Enquanto me contava, ele não conseguia evitar a indignação, falava alto, gesticulava e tinha os olhos marejados. Eu fiquei em choque. Nunca gostei que ele frequentasse a zona sul. "E foi num dia que eu estava bem vestido, mãe. Até cinto eu usava, porque tenho a preocupação em me arrumar mais quando vou nesses espaços". Detalhe: outros amigos estavam juntos, mas só ele foi abordado, afinal, não tinha cara de morador. "O que você está fazendo aqui?", foi questionado. E nem a intervenção do pai da amiga aplacou a ira do racista que tomou a identidade das mãos dele e ameaçou levá-lo a uma delegacia. Eu só consigo pensar na letra dos racionais: "racistas otários nos deixem em paz" e na letra do Djonga: "fogo nos racistas". Filho da puta, se eu estou por perto... Nesse dia 8, lembro da minha mãe que dizia sempre quando papai queria nos bater e ela com seu corpo nos protegia: "você vai bater no que você parir, desgraçado!

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