domingo, 4 de março de 2018

Ray Davies

Que manhã maravilhosa! Não há uma nuvenzinha no céu. Comecei o dia ouvindo o trompete de Ray Davies, em "Theme from kiss of blood (https://www.youtube.com/watch?v=nod3Gx3c3Kw). Foi o menino quem me apresentou. A música é o sample do rap "Vida loka II" do Racionais que o menino com seu espírito de pesquisador garimpou. Decidi que vou fazer uma playlist só com músicas fodas de samples dos Racionais. O milho criolo cresceu tanto! As espigas estão gigantes. Levei sementes dele para o Festival Quilombola em São Julião e distribui para representantes das três comunidades presentes e para quem mais quis. O morro está verdinho com o mato no rebroto por causa das chuvas. Fridinha e Scooby estão enrodilhados aos meus pés. O cheiro deles denuncia que o banho não pode passar de hoje, mas quando Scooby lambe minha mão e Fridinha vem atrás de mim quando eu me levanto dessa cadeira, deixa de ser importante. O afeto dos bichos é uma coisa que me comove. Levei muito tempo para me converter. Os periquitos estão no pé de manga no quintal da vizinha numa algazarra só. Os pendões do milho estão cheios de abelhas fazendo o trabalho de polinizar as espigas. Vez ou outra, os beija-flores vêm tomar água no bebedouro. Sim, a casa é velha. Tem uma porta sendo destruída por cupim, atrás do barracão tem um monte de tralha e um opala velho embaixo do pé de abacate. Mas essa janela, esses pés de milho, o bebedouro e o morro são minha canoinha. É onde entro e não quero mais sair. É minha terceira margem. E sigo rio abaixo, rio a fora, rio a dentro, porque a terceira margem não se alcança, mas é ela que nos move a remar. Como diz o poeta, "dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes".
Eu consigo me fazer entender?
Vocês me compreendem?
Bom sábado pr'ocês!
Ah, escutem Ray Davies!

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