domingo, 4 de março de 2018

Mudança

Há cerca de uma semana estamos, efetivamente, por conta da mudança. Mas o projeto de mudarmos foi sendo gestado já há algum tempo. Na semana passada, faxinamos a casa. O menino trabalhou duro, sem reclamar. Pelo contrário, estava e está feliz demais com a casa nova. Casa que os padrinhos [que ele escolheu] construíram e moraram por tanto tempo. Estamos de volta ao bairro onde ele nasceu. Isto é, nascer mesmo, ele nasceu na maternidade Santa Fé, mas morávamos aqui, no bairro Aparecida. O bairro que mamãe veio morar quando se separou de papai, em 1978 ou 79, não lembro ao certo. E, hoje, fomos acolhidos pela mesma família que nos acolheu naquela época: os Noronha. Mamãe, uma jovem senhora de 49 anos, analfabeta, insegura com a metrópole que exigia o domínio de códigos que ela não tinha, foi auxiliada por Dona Detinha que a ajudou, entre outras coisas, a procurar escola para os filhos pequenos. No domingo, começamos a fazer a mudança. Buscamos uma doação aqui, outra acolá, e enchemos a pickupzinha do Zezé, que veio pesada, me deixando tensa nos 96km de Baldim a BH. Um barulho estranho na roda direita dianteira e eu assustada. "O que é isso, Zé?" "É sinal de que alguma coisa está estragando", ele falou com aquele sotaque de personagem saído de algum conto de Guimarães Rosa. "Pelo amor de deus! Não podemos ficar na estrada, não!" Não ficamos. A pickupzinha chegou inteira e paramos só uma ou duas vezes para Zezé proteger o vaso de capim cidreira que ele mesmo plantou para mim para os chás nos dias de tpm. Meu irmão trabalhou pesado. Ajudou a montar, carregar e descarregar. Depois me ligou dizendo: "É muito ruim saber que vocês não vão chegar". É, sim, Zé! Mas fica a lembrança de tudo que vivemos juntos nesses mais de três anos na casa de janela azul. Voltar ao bairro Aparecida, onde morei por tantos anos, também mexe muito comigo. Estou novamente cercada de amigos generosos. E já, já, será possível ouvir os tambores de congado pelas ruas do bairro. Deixá só abrir o reino.

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