domingo, 4 de março de 2018

Metrópole

Os últimos três anos e meio morando em Baldim foram muito importantes. Cidade pequena, pais e mães meio que tomavam conta uns dos filhos dos outros, mais até do que os meninos gostariam. Alguém sempre dava notícia de onde e com quem estavam e eles ficavam meio que protegidos. O anonimato da cidade grande, que tanto o menino almejava, dá um certo desamparo. A metrópole é complexa: tem pista de skate, batalha de rima, sarau de poesia, cinema, shows de rap, mas tem uma desigualdade que agride. Não que em Baldim não existisse pobreza, mas parece que lá, os pobres ostentavam uma certa dignidade. Aqui, não. A injustiça social é jogada, diariamente, na nossa cara. O empobrecimento pelo qual passa a população tem sido gritante no último ano. Crianças voltaram pra rua, coisa que eu não via há muito tempo. Toda vez que o menino sai sozinho, são as mesmas recomendações: pegou documento? E se a polícia abordar, como faz? Sim, senhor! Não, senhor! Nada de capuz na cabeça. E o coração só sossega quando ele volta são e salvo pra casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário