domingo, 4 de março de 2018

Melancolia

Eu me mudei para BH no começo da década de 1980, aos 14 anos de idade. Sem formação e sem experiência trabalhei muito em subempregos. Na época, final da ditadura militar, o presidente da República era o general João Batista de Figueiredo. Depois, sobrevivi a Sarney, Collor e Fernando Henrique Cardoso. O sentimento daquela época era resignação, uma submissão sem revolta, um conformismo. Lembro do país vivendo a fome, a inflação e o desemprego. Depois, vieram os governos Lula e Dilma e senti na pele a transformação. Voltei a estudar, fiz especialização, mestrado e até doutorado com estágio sanduíche fora do país. Criei o menino com dinheiro de bolsa. Muitos amigos passaram em concursos nas universidades e nos institutos federais criados pelo presidente Lula. Vi muita gente sair da miserabilidade, vi contemporâneas minhas melhorarem de vida com o bolsa família. Hoje, aquele sentimento de resignação me ronda. Tô como a mulher do conto da Adélia, feito galinha na chuva, com "aquele passo bobo, aquele pescoço esticado pra frente, olha aqui, olha acolá, encharcada na friagem e na lama, sem resolver nada". Tô "com medo de apanhar tristeza, encardir de melancolia".

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