domingo, 4 de março de 2018

Medo

"escrevo com muito medo/de que os homens saibam/que a mesa não está posta/e eu não limpei/o leite derramado". Eu, simplesmente, amo esse poema da Mariana Botelho. Na verdade, eu não estava escrevendo, mas passei a manhã lendo "O voo da Guará Vermelha", da Maria Valéria Rezende. A primeira vez que ouvi falar de Maria Valéria foi através do projeto "Quebras", do Marcelino Freire, há uns dois anos. Assisti a uma entrevista dela, no jardim de sua casa, em João Pessoa, feito pelo Marcelino. Ali, me encantei com a trajetória dessa mulher incrível que "fumou maconha, lutou contra a ditadura e foi amiga de Fidel (http://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2018/02/maria-valeria-rezende-freira-escritora-e-feminista.html). Depois, a vi na Flip, em julho do ano passado. Mas só esta semana peguei um livro dela pra ler. Não li mais rápido porque era pdf e não dava para carregar pra todo lado.Terminei agora à pouco, encantada com a história de Rosálio, um homem cujo objetivo de vida era aprender a ler. Maria Valéria, educadora popular, está inteira no livro e seus personagens são, na minha opinião, os educandos jovens e adultos que ela encontrou pelo caminho, seja no Brasil, na Argélia, no México ou em Timor Leste. Enquanto lia, lembrava o tempo todo de Paulo Freire, sua "Pedagogia do Oprimido" e do direito à palavra. Enquanto não terminei de ler o livro não consegui fazer o almoço. E, agora, escrevo com medo que as pessoas saibam que a casa está desarrumada e o tanque cheio de roupas sujas.

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