domingo, 4 de março de 2018

A arte de perder


Scooby dorme aos meus pés embaixo da mesa. Daqui, ouço o padre celebrando a missa de domingo. Os periquitos fazem algazarra no pé de manga. Sentada na mesa da cozinha, olho para os pés de milho criolo que começam a endurecer. O dia está nublado. Na sala, nossas malas e caixas de livros. Essa mudança é estranha. Sei que não vou sumir de Baldim, mas é certo que não virei com a mesma frequência. O coração começa a apertar e eu lembro de Elisabeth Bishop e seu poema "A arte de perder". A poeta nos ensina que perder não é nenhum mistério. Precisamos treinar diariamente o desapego. Perder um pouquinho a cada dia. Comece lembrando que perdemos as horas. Perca as chaves de casa. Depois exercite com coisas maiores: lugares, nomes, viagens. A gente também perde pessoas, e não é nada sério. Vamos sentir saudades, mas não chega a ser mistério.
Exercitar a perda alarga a alma e abre espaço para novos afetos.
Bom domingo

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