domingo, 26 de novembro de 2017

Carece de ter coragem

Riobaldo pagando promessa de uma cura de doença, ia todos os dias, esmolar na beira do rio de Janeiro. Dinheiro quase não aparecia, mas ele apreciava ficar observando o movimento. Lá pelo terceiro ou quarto dia um menino apareceu, regulado em idade com ele e o convidou para a travessia. Reinaldo deu a mão a Riobaldo para ajudá-lo a descer o barranco e entraram na canoinha, uma canoinha de nada, bamba, que se equilibrava mal, e balançava no estado do rio. Riobaldo cheio de medo, inseguro, sem saber nadar, mas com um enorme prazer daquela companhia, que nunca por ninguém não tinha sentido. Ficou ali, contemplando os olhos verdes do menino, dividido entre o receio e o gostar imenso de ficar perto. À medida que remavam em direção ao rio São Francisco, o medo de Riobaldo aumentava, mas a segurança que o menino lhe transmitia era imensa. Riobaldo teve medo, muito medo, medo e vergonha, mas enfrentou o bambalango das águas e realizou a travessia. Carece de ter coragem, carece de ter muita coragem.

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